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Entre a Adaptação e o Excesso, um Caminho para o Tratamento
Sintomas da ansiedade podem afetar qualquer pessoa, independentemente de idade, gênero ou status socioeconômico. A ansiedade é uma emoção natural, parte da experiência de vida, e uma reação normal do organismo diante de desafios. No entanto, entender a ansiedade é fundamental para reconhecer quando ela se torna um problema e identificar o caminho adequado para o tratamento.
Praticamente todos estão sujeitos a experimentar sintomas de ansiedade ao longo da vida, já que essa é uma experiência humana universal e essencial para nossa sobrevivência.
A função adaptativa da ansiedade
A ansiedade, em sua essência, possui uma função adaptativa vital, pois faz parte do nosso sistema de luta e fuga, sendo fundamental para nos preparar para lidar com perigo e desafios.
Em níveis moderados, a ansiedade, pode ajudar a melhorar nossa performance, uma vez que, ela contribui para aumentar a atenção e concentração em situações que precisamos ter bom desempenho, como competições, provas e apresentações em público, por exemplo.
Além disso, a sensação de ansiedade, pode contribuir para nos preparar e planejar para eventos futuros com cuidado e atenção. Assim como, a antecipar possíveis perigos e tomar as precauções necessárias para evitar situações de risco.
O mal Está nos Excessos
Enquanto a ansiedade em níveis moderados é um aliado valioso, melhorando nossa performance e aumentando nossa capacidade de planejamento. A ansiedade em graus elevados pode ser tornar um problema e comprometer todas as éreas de vida de uma pessoa. Logo, o que deveria ser positivo e produtivo, pode se tornar um problema.
Quando a Ansiedade se Torna um Problema
Muitos fatores podem aumentar a suscetibilidade de um indivíduo a desenvolver transtornos de ansiedade ou a experimentar sintomas de ansiedade de forma mais intensa, ou frequente.
Além dos fatores genético e biológicos, existem também as experiências traumáticas e estressores da vida, assim como hábitos e estilos de vida ou mesmo condições de saúde.
No entanto, o que será destacado aqui, diz respeito à personalidade e traços de caráter de uma pessoa que sofre com os sintomas da ansiedade.
Características de Personalidade na Ansiedade
A regra não é geral, posto que, a personalidade de pessoas ansiosas podem variar e afetar indivíduos de diferentes maneiras. Além disso, esses comportamentos também podem variar de leves a intensos. Pois, a ansiedade é uma experiência subjetiva e cada pessoa expressa a ansiedade de maneira única.
Porém, normalmente, alguns traços de personalidade ou tendências comportamentais podem ser mais comuns em pessoas que sofrem com níveis elevados de ansiedade:
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Preocupação excessiva
Pessoas ansiosas, tendem a se preocupar de forma excessiva e desproporcional sobre eventos futuros ou situações do cotidiano. Muitas vezes, criam antecipadamente, o pior cenário possível de situações hipotéticas e sentem dificuldade em controlar essas preocupações. Tornam-se hipervigilantes a ameaças ou potenciais perigos, tanto físicos quanto emocionais e focam no que pode dar errado
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Necessidade de estar no controle das situações
A incerteza, o medo e a preocupação acompanham os quadros de ansiedade. Ao tentar controlar as circunstâncias, elas acreditam que podem prevenir ou minimizar possíveis resultados negativos, evitar falhas, rejeições ou outras consequências indesejadas.
Manter o controle pode proporcionar um senso de segurança em um mundo percebido como ameaçador ou cheio de riscos. Esse controle pode ser sobre o ambiente, as relações interpessoais ou até mesmo sobre os próprios pensamentos e emoções.
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Em busca da Perfeição
Algumas pessoas ansiosas tendem ao perfeccionismo, como tentativa de evitar erros, ou falhas em seus projetos ou ações a fim de garantir que tudo saia conforme o planejado, sem falhas.
Buscam atingir padrões irrealisticamente altos em todas as áreas de suas vidas. Esse desejo de perfeição leva a uma vigilância constante sobre possíveis defeitos ou erros, tanto próprios quanto alheios, o que se traduz em um senso crítico elevado.
Em um nível mais profundo, o perfeccionismo desadaptativo está associado com crenças irracionais sobre o próprio valor e a necessidade de ser perfeito para ser merecedor de amor, respeito ou sucesso. Essas crenças podem levar a uma grande ansiedade diante da possibilidade de fracasso ou julgamento negativo.
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Criam altas expectativas em relação aos acontecimentos
A incerteza é uma fonte de ansiedade considerável para muitas pessoas ansiosas. Criar expectativas claras e definidas sobre ações futuras pode proporcionar uma sensação de segurança, controle e previsibilidade.
Pessoas ansiosas podem ser temerosas a decepção ou o fracasso, logo, estabelecem expectativas altas. Acreditam que estão se preparando para o melhor resultado possível, tentando assim proteger-se emocionalmente.
No entanto, isso pode levar a um ciclo vicioso, onde a falha em atingir estas expectativas pode intensificar a ansiedade e a autocrítica.
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Possuem um alto senso crítico e julgamento elevado em relação a si e aos outros
Pessoas ansiosas, possuem autocrítica severa, muitas vezes, focam em suas falhas percebidas e duvidam de suas capacidades
Essa tendência para a autocrítica e julgamento alheio deriva principalmente do medo de falhas e rejeição, perfeccionismo, baixa autoestima, necessidade de controle e segurança, além de uma hipervigilância a ameaças percebidas.
Tais comportamentos não apenas servem como mecanismos de defesa e estratégias de enfrentamento mal adaptativas, mas também refletem influências de experiências passadas e a maneira como as críticas e expectativas foram gerenciadas por figuras de autoridade durante a infância.
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Desconsideram suas necessidades emocionais e físicas
A ansiedade leva frequentemente a um foco exacerbado em preocupações externas, problemas potenciais e a necessidade de atender às expectativas ou demandas dos outros.
Esse foco externo pode desviar a atenção das próprias necessidades, pois a pessoa está mais preocupada em evitar situações que desencadeiam ansiedade ou em cumprir com o que acredita serem obrigações essenciais.
Algumas pessoas com ansiedade elevada podem ter dificuldade em identificar e expressar suas emoções devido à falta de consciência emocional ou à desconexão com seus sentimentos. Isso pode ser um resultado de mecanismos de defesa que minimizam a importância de suas experiências emocionais.
Pessoas ansiosas possuem esquemas de comportamento com padrões rígidos e inflexíveis. A pressão interna, em forma de cobrança e auto exigência são muito fortes.
Esta maneira de ser e de se colocar no mundo faz com que elas passem por situações que podem gerar e manter o estresse em níveis elevados e contínuos.
Pessoas ansiosas podem ter mais sensibilidade ao estresse, sentindo-se facilmente sobrecarregadas por desafios ou mudanças em suas rotinas e ambientes.
A ansiedade é a representação psíquica do estresse
Diante de situações estressantes, o organismo desenvolve um conjunto de reações para prepará-lo para a ação e para a adaptar-se a esta situação. Basicamente, o objetivo biológico é melhorar o desempenho e garantir a sobrevivência. No caso da ansiedade, trata-se de uma interação entre sensações físicas, alterações nos processos mentais e nos estados emocionais.
Produz excitação motora, tensão muscular e gera sentimento de apreensão, e sensações físicas desconfortáveis e emoções desagradáveis. Muitas vezes ocorre quando uma pessoa, sem motivo aparente, se sente apreensiva e angustiada com a sensação de que algo ruim vai acontecer.
São situações que contribuem, de forma significativa, para o aumento de crises de ansiedade e podem levar ao desenvolvimento de transtornos da ansiedade, tais como: o transtorno do pânico, agorafobia, hipocondria, doenças psicossomáticas, fobias, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e até mesmo depressão.
Geralmente, depois das primeiras crises de ansiedade, a pessoa sente muito medo de ter outro ataque e sentir as mesmas sensações experimentadas no primeiro episódio. Isso eleva ainda mais o nível de ansiedade, levando a pessoa a desenvolver um “comportamento evitativo”. Ela passa a evitar situações que poderiam gerar uma crise.
Algumas pessoas evitam sair sozinhas, deixam de frequentar lugares cheios, têm dificuldade de dirigir, não conseguem dormir, não viajam de avião, não frequentam shows, evitam edifícios altos, não utilizam elevadores e assim por diante.
Diante de tantas dificuldades, quem sofre com a ansiedade acaba tendo prejuízos na saúde física e nas vidas profissional, social, afetiva e familiar.
Além do desconforto emocional, existe também o desconforto físico, que pode se manifestar por meio de dores abdominais, musculares e na cabeça. Isso acontece porque os quadros ansiosos exigem muito do organismo.
Solidão: Incompreensão e Desqualificação Social
É comum também que o sentimento de solidão seja ampliado. A ansiedade, assim como muitos outros problemas de saúde mental, pode ser difícil de ser compreendida por aqueles que não a experimentam diretamente. Isso ocorre em parte porque os sintomas muitas vezes não são visíveis externamente de maneira tão clara quanto as condições físicas.
Comentários que minimizam ou invalidam as experiências de alguém com ansiedade — como sugerir que a condição é uma questão de falta de esforço ou fé — podem intensificar o sentimento de isolamento e solidão.
Tais reações podem impedir que a pessoa busque ajuda, por medo de não ser levada a sério ou por se sentir incompreendida.
A falta de compreensão e apoio pode agravar a ansiedade, fazendo com que o indivíduo se feche ainda mais em si mesmo. Daí a importância da educação sobre saúde mental para o público em geral, para aumentar a empatia e o apoio às pessoas que vivem com transtornos de ansiedade, incentivando um ambiente mais acolhedor e propício para a busca de tratamento e apoio.
É importante estar atenta para quando a ansiedade se manifestar de forma alterada e saber identificar como acontece. Afinal, todos nós estamos sujeitos a sentir ansiedade, pois isso é algo natural, assim como acontece com as doenças físicas.
A notícia boa é que existe tratamento para os transtornos da ansiedade.
É importante, porém, que este seja realizado por profissionais qualificados. Somente assim será possível diminuir os sintomas desagradáveis, que podem causar problemas físicos e comprometer todos os campos da vida da pessoa.
A Importância do Tratamento Psicológico
O tratamento psicológico é considerado um dos melhores métodos para tratar a ansiedade. Pois, além de ter eficácia em tratar os sintomas, trata também as causas. Além de contribui para que a pessoa que sofre com a ansiedade, entenda e assim possa modificar estes padrões de pensamento e comportamento que alimentam a ansiedade.
Abordagem Personalizada:
O tratamento psicológico é adaptado às necessidades individuais, o que permite um foco nas causas específicas da ansiedade de cada pessoa, bem como na forma como se manifesta em sua vida.
Desenvolvimento de Estratégias de Coping:
Os pacientes aprendem técnicas e estratégias para lidar com os sintomas da ansiedade, o que pode reduzir a frequência e intensidade das crises.
Modificação de Pensamentos:
A terapia ajuda na identificação e modificação de padrões de pensamento negativos ou distorcidos, comuns em pessoas com ansiedade, promovendo uma percepção mais realista e positiva de si e do mundo ao redor.
Melhoria na Qualidade de Vida:
Ao aprender a gerenciar melhor a ansiedade, os indivíduos experimentam uma melhoria significativa em sua qualidade de vida, incluindo melhores relações sociais, desempenho profissional e bem-estar geral.
Prevenção de Recorrência:
A terapia proporciona ferramentas que não só ajudam no presente, mas também equipam o indivíduo para enfrentar futuras situações de estresse, reduzindo o risco de recorrência dos sintomas.
Foco nas Causas:
Ao contrário de tratamentos que focam apenas no alívio dos sintomas, como a medicação, o tratamento psicológico visa compreender e tratar as raízes da ansiedade, proporcionando uma solução mais duradoura.
Embora o tratamento psicológico seja altamente eficaz para muitas pessoas, é importante reconhecer que a ansiedade é um transtorno complexo que pode exigir uma abordagem multifacetada.
Para alguns, a combinação de terapia e medicação pode ser o caminho mais eficaz. A chave é um diagnóstico preciso e um plano de tratamento personalizado, considerando as características únicas e as necessidades de cada indivíduo.
Mary Scabora
Psicóloga Clínica
Cuidar da saúde mental também é cuidar da saúde.
Cuide de si!