Da ansiedade ao pânico
10/12/2021Estresse: Como nosso corpo reage em situações de tensão
16/01/2022A doença psicossomática surge quando um conflito psíquico causado por uma fonte de estresse ultrapassa a capacidade de tolerância. Ao invés de ser reconhecido e elaborado, pode ser descarregado através de manifestações no corpo (soma), o que indica uma falha na capacidade de simbolização e de elaboração mental. Deste modo, com algumas dificuldades para lidar com as tensões, adoecer pode ser uma tentativa de estabelecer um equilíbrio para o corpo.
Neste sentido, a doença surge como uma linguagem que é representada pelo corpo. Há diversas evidências que comprovam a relação entre as emoções e os vários componentes do sistema imunológico. Isso explica o surgimento ou agravamento de uma série de doenças físicas, mas também por razões emocionais.
Há diversas situações que podem facilitar o desenvolvimento da somatização, como depressão, ansiedade e estresse. Os mais afetados são aqueles que sofrem situações, como:
- Desgaste profissional: afeta, principalmente, pessoas que trabalham com o público como vendedores, atendentes de telemarketing, professores, bancários e profissionais de saúde. Porém, afeta da mesma forma os estudantes e pessoas desempregadas, ou que estejam vivendo situações de estresse no trabalho, pressão por conta de prazos apertados, entre outras coisas.
- Acontecimentos marcantes: morte, separação, demissão, conflitos de relacionamentos;
- Situações de violência psicológica: casos de violência doméstica, de assédio moral e de bullying;
- Dificuldades como problemas variados: financeiros de relacionamento, profissionais, crises familiares, doenças;
- Dificuldades emocionais: muita ansiedade e tristeza associada ao fato de a pessoa não compartilhar suas preocupações, dúvidas ou não conversar sobre seus problemas.
As pessoas que estão ansiosas ou deprimidas têm maior tendência a aumentar os sintomas físicos e a elaborar ideias catastróficas sobre suas causas e consequências.
Do mesmo modo, as pessoas que estão sofrendo com uma doença orgânica podem aumentar o estresse e a ansiedade, além de serem mais vulneráveis a desenvolver a depressão ou um transtorno de ansiedade.
Como ocorre a doença psicossomática
O mecanismo que faz surgir uma doença psicossomática está ligado ao hipotálamo. Ele é uma das mais importantes estruturas do sistema nervoso central e atua no controle das emoções e comportamentos.
Essa glândula comanda o sistema nervoso e produz hormônios que praticamente controlam todas as funções do organismo, além de ajustá-lo às variações externas.
O hipotálamo também é responsável pelo controle do apetite, pela temperatura corporal e atua no processo de contração muscular. É o principal centro da expressão emocional e do comportamento sexual.
O estresse, a ansiedade e a depressão são considerados como as causas mais frequentes das doenças que se manifestam no corpo.
O organismo possui três vias de respostas para descarregar as excitações: a orgânica, a ação e o pensamento. E, diante de uma perturbação em seu funcionamento, o indivíduo pode, conforme as características de seu desenvolvimento e do seu momento de vida, ser acometido por patologias ditas “psíquicas” ou “somáticas”.
Estresse
Diante de situações estressantes, o organismo desenvolve um conjunto de reações enquanto lhe é exigido esforço para a adaptação. Porém, a energia necessária para esta adaptação é limitada. Se o agente estressor for muito potente e prolongado, haverá desequilíbrio na defesa imunológica do organismo, gerando maior pré-disposição ao desenvolvimento de doenças.
Em períodos de estresse, quando as pessoas desenvolvem muitas reações emocionais negativas, é provável que surjam certas doenças relacionadas com o sistema imunológico, como: a gripe, herpes, diarreias, ou outras infecções provocadas por vírus oportunistas.
As emoções também atuam como agentes estressores fisiológicos
Dentre as emoções, o medo, a raiva e a tristeza se destacam como principais agentes da ruptura da homeostasia corporal.
São respostas orgânicas, mentais, psicológicas e comportamentais para enfrentar e se adaptar aos agentes estressantes.
A dificuldade para lidar com situações estressantes pode gerar sentimentos de desespero e sensação de abandono, desamparo e desesperança. Esse alerta fisiológico do estresse está relacionado às causas das doenças psicossomáticas.
O tempo todo nosso corpo produz sintomas físicos em resposta a emoções. O contrário também acontece, quando nosso corpo apresenta respostas emocionais a sensações físicas. É comum suar e ficar com as mãos trêmulas antes de uma apresentação em público, sentir o coração disparar quando se está com medo, ficar vermelho quando sente vergonha ou produzir pensamentos angustiantes diante de um aperto no peito.
Tudo depende da maneira como a pessoa encara este tipo de situação. Cada um lida com o estresse de formas diferentes.
A doença aparece quando há uma resposta inadequada ou insuficiente. E carrega uma mensagem: Cuide-se, viva melhor!
Normalmente, um transtorno mental é decorrente da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. O ser humano é um ser biopsicossocial, além do que diz respeito à biologia, há um aparelho psíquico com identidade própria e em funcionamento, que desencadeia reações fisiológicas como consequência dos processos dinamicamente conscientes e inconscientes.
Cada pessoa tem uma maneira para lidar com os acontecimentos da vida; isso faz parte de sua singularidade. A forma como subjetivou suas vivências, a maneira como percebeu os acontecimentos do passado ou como lida com as perspectivas em relação ao futuro, tudo ajuda a construir uma percepção individual de si e da realidade e poderá influenciar a forma como cada um vivencia o estresse.
Não podemos evitar os sintomas físicos diante de uma situação de estresse, mas podemos evitar que se transformem em algo incapacitante.
Podemos reconhecer os sintomas e abrir possibilidades para alterar a resposta do organismo. Depende muito da personalidade de quem vivencia tais experiências e de sua capacidade de avaliar, enfrentar e ressignificar tais vivências.
ANSIEDADE
A ansiedade seria a consequência psíquica do estresse. E, assim como estresse, faz parte da experiência de vida. Ela tem função adaptativa e atua como um sinal de alerta, preparando o indivíduo para a ação.
É uma reação normal do organismo diante de situações com as quais precisamos lidar no decorrer da vida e que provocam dúvidas e expectativas, gerando sentimento de apreensão. Além disso, envolve padrões fisiológicos e psicológicos, gera tensão corporal e alteração das funções mentais, bem como mudanças nos estados emocionais e no comportamento. Também altera a percepção, colaborando para que os acontecimentos sejam interpretados de forma negativa e catastrófica, produzindo conteúdos de pensamento que mantêm o estado ansioso.
A ansiedade é considerada a causa mais frequente de doenças que se manifestam no corpo.
Há uma série de sintomas físicos que podem acontecer em função da ansiedade, como: dor no peito, falta de ar, sudorese, náusea, diarreia e vertigem, por exemplo. Também acarreta problemas no aparelho digestivo (gastrite, cólicas e náuseas), no aparelho respiratório (asma e alergias), na pele, hipertensão, dores de cabeça e nas costas, cansaço, insônia, dificuldade de concentração e de memória e distúrbio de funções sexuais. Mas, a ansiedade não gera apenas efeitos no organismo.
Os sintomas emocionais também são muitos e podem se tornar devastadores. Sentimento de incapacidade, falta de motivação, medos excessivos, receio de lidar com o futuro, de fracassar e de perder o controle, comportamentos compulsivos, como comer ou beber em excesso e roer unhas), distúrbios alimentares, entre outros, são alguns exemplos. Tudo que está relacionado a nossa saúde funciona como um todo.
Mente e corpo não estão dissociados. Portanto, nada no organismo tem ação separadamente. Os aparelhos respiratório, digestivo, reprodutor ou psíquico estão conectados entre si e quando alterados refletem uns nos outros, cada um na sua especificidade.
DEPRESSÃO
A depressão, assim como a ansiedade e o estresse, também está relacionada às doenças psicossomáticas. Ela não se restringe somente ao psíquico; envolve todo o organismo e afeta tudo o que diz respeito à vida de uma pessoa.
Entre as principais características da depressão estão: tristeza profunda, acompanhada de sentimentos de: desânimo, desesperança, dor, medo, desamparo, vazio, ausência de prazer, amargura, baixa autoestima, desencanto e culpa. Pessoas deprimidas estão mais sujeitas a infecções, como: herpes, enterocolites, erisipelas, urinárias, ginecológicas, entre outras. Além disso, podem sofrer com alteração das funções do sono e do comportamento alimentar e sexual. Nos idosos com sintomas de ansiedade e depressão, é comum a presença associada de, pelo menos, uma doença orgânica. Parte dos sintomas físicos não tem uma explicação médica e revela alterações do estado emocional.
Tratamento das doenças psicossomáticas
É fundamental que o tratamento seja multidisciplinar, ou seja, com a participação de psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, gastroenterologistas, dermatologistas, neurologista e cardiologista, para que seja eficaz e efetivo.
No tratamento psicoterapêutico, o processo é um pouco mais complexo do que na medicina. Não existem exames para um diagnóstico preciso, como no caso de uma gastrite ou de um problema renal, por exemplo.
Trata-se de um processo de autoconhecimento, no qual o paciente e o terapeuta desenvolvem uma dinâmica de trabalho para entender os mecanismos que disparam os sintomas. Durante seu desenvolvimento, o ser humano constrói e estrutura formas de ser e de reagir aos diferentes estímulos aos quais pode ser submetido
Na psicoterapia, levam-se em conta a totalidade do ser humano e as circunstâncias que o rodeiam, para uma compreensão mais ampla dos processos de adoecer. O foco é o doente e não a doença.
O processo de adoecimento não é um evento causal, mas a resposta do sistema de uma pessoa que vive em sociedade e faz parte de uma cultura. A história de vida do paciente precisa ser analisada. Busca-se a compreensão de como a memória registrou suas vivências desde o início de sua vida, de forma a lhe oferecer instrumentos para enfrentar as dificuldades, desenvolvendo estratégias comportamentais para lidar com estas situações e buscar uma vida com mais qualidade.
Mary Scabora Psicologia Clínica
Cuidar da saúde mental e emocional também é cuidar da saúde. Cuide de si!
Referências Psicossomática: duas abordagens de um mesmo problema - http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-73142006000200004 Psicossomática hoje / Júlio de Mello Filho ... [et al.]. Pânico, Sintoma Psíquico e Doença Psicossomática - Rodrigues, Antenor Salzer - Editora Appris.