Ansiedade: dias de um futuro inesquecível
23/05/2016Como Superar Uma Traição
O caminho para você dar a volta por cima e ser feliz sozinha ou reconstruir a união
Íntegra da entrevista concedida
Superar uma traição é um dos desafios mais difíceis que alguém pode enfrentar, mas também é uma oportunidade para crescimento pessoal e fortalecimento de relacionamentos. Nesta entrevista, reproduzida pela Revista Claudia, exploramos as diversas maneiras de lidar com a infidelidade, desde o momento da descoberta até a possibilidade de reconstrução da união ou seguir em frente de forma independente.
Vale a pena conversar para tentar entender o motivo da traição? Ou quando as pessoas estão feridas isso não é um bom passo?
Uma boa conversa sempre vale a pena, pois o diálogo é importante para não dar margens a fantasias que só colaboram para aumentar o sofrimento e para ajudar a entender o que de fato levou o parceiro a ser infiel. Porém, o ideal é que, no primeiro momento, a pessoa dialogue consigo mesma, repensando a relação.
Descobrir a infidelidade dói. Trata-se de uma ferida narcísica que abala o ego, e emoções como raiva, mágoa e culpa emergem com força total. Dialogar nesse momento pode ser catastrófico, pois o “traído” geralmente se coloca como “vítima” e tende a descarregar a ira no outro, tornando o diálogo improdutivo.
É preciso um tempo para avaliar a situação antes de decidir se quer terminar a relação ou se quer tentar superar isso juntos?
Sim, é fundamental! Nem sempre uma infidelidade significa que não exista mais amor ou desejo. Cada história é única, e a pessoa deve avaliar sua própria situação. Existe amor? Desejo? Cumplicidade? Parceria? Vale a pena investir na relação? Situações dolorosas podem ser potencializadoras, permitindo reformatar a relação com novos acordos baseados na ética.
Sim, fundamental! Nem sempre uma infidelidade significa que não exista mais amor ou desejo. Cada história é uma história e é sobre sua própria história que a pessoa deve avaliar e refletir. Existe amor? Desejo? Cumplicidade? Parceria? É uma relação que nutre? Que potencializa? Vale a pena investir na relação?
Situações como essas, embora sejam doloridas, são também potencializadoras. Se os envolvidos conseguem passar pelo processo, é um bom momento para reformatar a relação estabelecendo novos acordos baseados na ética e não só na moral. Relações humanas são muito vivas e dinâmicas, as pessoas se relacionam baseadas em contos de fadas com “príncipes encantados” e “felizes para sempre”. Isso não existe.
É importante curtir a fossa ou ela não deve abrir espaço para a tristeza? Como evitar a auto piedade?
Não adianta negar, descobrir uma infidelidade dói, e dói muito. Portanto, respeitar a dor é importantíssimo no processo.
No primeiro momento, o sentimento de auto piedade é natural, o que não significa que a pessoa deva se estender nesse sentimento por muito tempo.
Nossa cultura prega que devemos ser felizes a qualquer custo e não dar margem a tristeza, assim, buscamos fórmulas para camuflar a dor. Porém, vivenciar a tristeza é importante, são em momentos de dor que refletimos sob outras perspectivas e criamos novas possibilidades. Como bem disse Nietzsche: ”É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.” A pessoa precisa ter em mente que a relação não é a vida dela, e sim, somente uma parte da vida dela.
Nesse caso é inevitável ter a autoestima abalada, certo? Há dicas práticas para fazê-la se sentir melhor consigo mesma? (ir ao cabeleireiro, ir para a academia, fazer algum tratamento estético…)
Sim, muitas vezes a pessoa, até mesmo pelo comodismo que o casamento traz, se negligencia nesse sentido. É importante aproveitar para fazer coisas que gostaria de ter feito, mas nunca tomava iniciativa. Renovar o guarda-roupa, mudar o visual, cuidar do corpo, da saúde, da beleza, encontrar amigas, fazer novas amizades. E também é um bom momento para construir uma história de amor consigo mesma.
Para superar, o melhor caminho é cortar relações com o ex-parceiro? Isso evita aquela situação mal resolvida? E em casos que o encontro é inevitável (pai dos seus filhos) como lidar com a situação?
No caso de uma separação, se a ferida ainda estiver inflamada, o ideal é evitar eventuais encontros até que a situação esteja razoavelmente resolvida e seja suportável lidar com o outro. Em situações inevitáveis, marque os encontros em lugares neutros, e procure manter a calma e distanciamento emocional para que não respingue nos filhos, pois isso pode trazer mais dor e sofrimento.
Sair com amigas e pessoas diferentes reforça a autoestima?
Reforçar a autoestima ajuda a esquecer. A ordem é: Divirta-se, entregue-se ao “papo bobagem” e dê boas risadas. Nada de ficar falando sobre o ex ou sobre a dor sentida.
É aconselhável se envolver com outras pessoas?
É aconselhável sair com outras pessoas desde que a pessoa esteja aberta para vivenciar novas experiências e despida de mágoas e ressentimentos da relação anterior.
É importante compreender que cada relação é única. Nada mais desagradável num encontro onde outro fica falando da relação anterior ou estar em uma relação onde se transfere para o outro os medos e inseguranças de experiências passadas.
Como superar a vontade de se vingar de quem lhe fez sofrer, especialmente se ele engatar um relacionamento com o pivô da traição?
É muito delicado. Amor e ódio são dois lados da mesma moeda e, tais sentimentos sempre vêm acompanhados de outros sentimentos como a raiva, a frustração, a mágoa, entre outros. A pessoa deve estar atenta para as sensações e os sentimentos que as atravessam e procurar lidar com eles de forma lúcida e produtiva. O foco deve ser nela e em sua vida dali para frente. Afinal, a vida pulsa e acontece no instante. Com o tempo, o valor que atribuímos aos acontecimentos perde a força e ganha novos significados. Tudo vai depender de como cada um lida com tais questões.
Muitas vezes a tendência é se culpar pelo ocorrido, certo? É importante admitir uma participação no processo que levou à traição ou isso não é construtivo?
Muitas pessoas pensam que se o parceiro procurou outra é porque ela (e) está falhando em algo e, isso nem sempre é verdadeiro. É importante compreender que o parceiro é um ser individual, que tem seus desejos, carências, suas fantasias, fraquezas e limitações comuns ao ser humano e são de ordem pessoal e intransferível.
Em nossa cultura, as relações amorosas são permeadas pela ideia de “unidade”, de “posse”, ou seja, as pessoas se relacionam acreditando que os dois são um só, quando na verdade o que existe é uma interseção.
Se decidir continuar investindo, o ideal é reconstruir a relação e alimentar a ideia de “como podemos fazer diferente e melhor”, no lugar de cultivar culpas que só levam ao sofrimento.
Construtivo é que a pessoa se valorize, valorize o outro, e separe momentos prazerosos a dois. Programar viagens a dois, passeios românticos, pensar em novas possibilidades para o sexo, dialogar mais sobre a relação. Lembre-se, nestas situações os dois sofrem.
Como lidar com a opinião alheia, especialmente se você decidir manter o relacionamento?
O ideal é que a pessoa selecione seu “ombro amigo” para compartilhar sua dor. É comum no ser humano se projetar no outro; nesse sentido, as pessoas tendem a manifestar suas opiniões baseadas em seus afetos. E, cada relação tem seus próprios acordos.
Muitas vezes, sentindo-se refém do olhar e do julgamento do outro, as pessoas tomam decisões que se arrependerão mais tarde.
Uma viagem pode ajudar a superar?
Uma viagem colabora, pois fará bem respirar outros ares, mudar de ambiente e ainda, quem sabe, proporcionar um bom encontro. Mas a dor não é uma questão geográfica, ela nos acompanha.
Qual é o processo para superar mesmo esse problema e não retomar o caso da traição a cada briga? Para tentar prosseguir com a relação é preciso entender e perdoar o que o parceiro fez?
Respeitar o tempo! Seria impossível, mesmo depois de uma boa conversa, que a pessoa que se sentiu atingida simplesmente perdoe e esqueça o que se passou. Os afetos reverberarão por algum tempo e aos poucos vão se dissipando.
O importante é que a pessoa não cultive a mágoa e o ressentimento. Nos primeiros momentos, diante de uma discussão, quando emoções vêm à tona, é comum e natural retomar o assunto. Portanto, é fundamental que o outro entenda que isso faz parte do processo e releve, evitando assim que discussões corriqueiras não se tornem maiores.
Há mais algum conselho, orientação ou dica que você possa dar para quem está passando por essa situação?
Renove-se – Se continuar com o parceiro, aproveite para reformatar a relação, use a experiência para o enriquecimento e redescobrimento dos dois.
Se for partir para outra, livre-se de qualquer ressentimento ou mágoa. Dialogo é fundamental em qualquer relação, é importante conhecer os pontos de vista do outro e reconhecer os próprios pontos de vista. Saber o que realmente pensa sobre tudo que envolve uma relação sob uma perspectiva da ética e não somente pautada por moralismos.
Temas como infidelidade ainda são vistos como tabu pela maioria das pessoas. Muitos ainda confundem amor com posse e acreditam que se amam uma pessoa não se interessará e não desejará mais ninguém, não admitindo que isso também aconteça com o outro.
Mary Scabora
Psicóloga Clínica
Cuidar da saúde mental também é cuidar da saúde.
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