Medicina e psicologia: um dialogo necessário para a saúde
13/06/2021Quando a ansiedade vira pânico
10/12/2021Diferentemente do homem primitivo, a interpretação de perigo para o homem moderno transcende a vida biológica. Perigo é também interpretado como a impossibilidade de realizar desejos e suprir necessidades.
O homem contemporâneo interpreta também como perigo as perdas de status, poder econômico, conforto, de afeto, etc.
O perigo se relaciona com a impossibilidade de concretizar e a incapacidade de criar. A dor, que tem como ‘raiz’ o medo, muitas vezes é gerada pelo desconforto causado pela sensação de impotência diante de determinadas situações que são inerentes à vida.
Para alguns, lidar com a mudança, com situações desconhecidas ou lidar com o outro na adversidade são motivos para ativar estados que desencadeiam quadros ansiosos. São sensações que se intensificam gerando excitação corporal e aceleração mental. Esta dinâmica é sentida como negativa e desorganiza os processos de pensamento, comprometendo a capacidade de raciocínio lógico. Na maior parte das vezes vem acompanhada da sensação de incapacidade para lidar com o futuro e medo de fracassar.
A vida moderna é competitiva e cria demandas. Com a tecnologia desenvolvemos outra relação com o tempo, a sensação de que tudo é efêmero e urgente. Os estímulos são muitos e a mente exige elaborações e soluções rápidas, o que favorece quadros de ansiedade.
Muitas pessoas não conseguem identificar a ansiedade. Sentem-se angustiadas, inseguras, percebem as alterações físicas como vertigem, aperto no peito, alterações respiratórias e cardíacas, e neste estado tentam encontrar uma lógica para esta sensação. Não compreendem o que sentem, pois aparentemente está tudo bem e, apesar disso, a pessoa sente como se alguma coisa terrível fosse acontecer.
Diante da inabilidade de reconhecer e lidar com a ansiedade, o conteúdo pessimista torna-se atuante, agravando o quadro. Quando isso acontece em níveis demasiadamente intensos ou com maior frequência, tende a determinar mudanças no comportamento.
Muitos buscam um jeito rápido encontrar alívio através do consumo abusivo de bebida, comida, drogas e medicamentos ou comportamentos como roer unhas, falar demasiadamente e outros comportamentos que dão a ilusão de conforto e alivio. Em casos em que a ansiedade se torna crônica, pode desenvolver transtornos como o pânico, fobias, TEPT (Transtorno por Estresse Pós-Traumático), transtorno obsessivo compulsivo (TOC), etc.
Conhecer e saber lidar com a ansiedade é fundamental, pois ela é considerada a causa mais frequente para os distúrbios psicossomáticos.
Muitas vezes, a intensidade da ansiedade perturba o funcionamento do organismo: aparelho digestivo (gastrite, náuseas), aparelho respiratório, alergias e afecções cutâneas, assim como distúrbios alimentares, de memória e funções sexuais.
Em doses adequadas, a ansiedade aumenta a capacidade de realização do indivíduo e prepara para a ação.
Graças a ela criamos possibilidades e nos organizamos nas relações que estabelecemos com tudo que diz respeito à vida, ao amor e ao trabalho.
Para isso, faz-se necessária uma educação emocional. O trabalho psicoterapêutico possibilita a elaboração e o desenvolvimento de técnicas para reconhecer, identificar e lidar com a ansiedade e suas repercussões.
Desta forma, a pessoa estará exercendo o cuidado de si como prática de vida. Aprender a voltar seu olhar para si, examinar-se, observar os pensamentos, as ações, perceber o corpo, se pensar na totalidade. É um exercício constante de autoconhecimento e aprendizado.
Não se trata de controle mas de contato e percepção que levam a um maior conhecimento sobre si. É mais fácil lidar com o conhecido.
Mary Scabora
Psicóloga Clínica
Cuidar da saúde mental também é cuidar da saúde.
Cuide de si!