Como a psicoterapia pode te ajudar?
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Atualizado em 16/03/2024
A Medicina e a Psicologia são áreas complementares e interdependentes na promoção da saúde integral. Portanto, é fundamental a existência de um diálogo contínuo e de uma colaboração estreita entre as duas áreas, pois a saúde do indivíduo constitui um mosaico complexo, onde os aspectos físicos e emocionais estão profundamente entrelaçados.
A Convergência entre o Físico e o Emocional na Saúde
As questões emocionais representam uma realidade constante no cotidiano do atendimento médico, onde sintomas físicos originados de questões psicológicas, como o estresse ou ansiedade, são frequentemente interpretados sob uma ótica puramente médica. Neste contexto, esse cenário conduz os pacientes por um caminho de especialistas de diferentes áreas médicas, sem considerar as possíveis raízes psicológicas de seus sintomas.
Por outro lado, é comum em atendimentos de emergência, um paciente procurar o clínico ou o cardiologista, acreditando ter problemas cardíacos, quando, na verdade, sofre de uma crise de ansiedade. Logo, o médico orienta o paciente a realizar exames que não acusam nenhuma anormalidade orgânica. Então o paciente é medicado e encaminhado para casa, mas em pouco tempo, os sintomas retornam.
Além disso, há situações em que o paciente apresenta uma doença orgânica, com sintomas persistentes e tratamentos que não geram os efeitos esperados a longo prazo.
Mesmo quando o paciente utiliza corretamente os medicamentos prescritos e segue rigorosamente as orientações, a doença persiste. Tais situações podem gerar dificuldades no diagnóstico correto e no encaminhamento para um tratamento adequado.
Desafios no Diagnóstico e Tratamento
Normalmente, quando o paciente busca atendimento médico, sua queixa é baseada apenas nos sintomas físicos. Muitas vezes, isso ocorre, pelo estigma associado à saúde mental e pela falta de conhecimento sobre como as emoções podem se manifestar fisicamente.
Muitos pacientes omitem questões pessoais, pois não sabem que seu desgaste, causado por estresse, ansiedade ou depressão, pode ser a raiz dos sintomas apresentados. No entanto, essa postura resulta em diagnósticos incompletos e tratamentos que não abordam as raízes do problema.
A Perspectiva Dualista e suas Consequências na Saúde Mental
A perspectiva dualista de Descartes, que separa mente e corpo, influenciou profundamente o pensamento ocidental e, por extensão, a prática médica. Esta separação levou a medicina, muitas vezes, a tratar o corpo de forma isolada da mente.
Portanto, profissionais de saúde podem não estar devidamente preparados para reconhecer a influência de fatores emocionais nos sintomas físicos. Isto se dá por conta desta formação que, frequentemente, separa a saúde física da saúde mental. Esta última é muitas vezes percebida como menos legítima ou menos importante do que a saúde física.
Consequentemente, essa desconexão entre o físico e o emocional pode levar a um ciclo vicioso de tratamentos insuficientes, onde os sintomas podem ser temporariamente aliviados sem tratar as causas subjacentes, criando assim, um ciclo de tratamentos paliativos que não promovem a cura ou o bem-estar de longo prazo.
Além disso, a percepção de que problemas emocionais são menos legítimos que problemas físicos podem impedir pacientes de buscar ou receber o tratamento adequado.
Embora a compreensão dos sintomas somáticos esteja ocupando um espaço crescente no atendimento médico, muitos pacientes que sofrem com os sintomas do estresse e da ansiedade, ainda não obtêm informações adequadas para perceber, de forma ampla, a sua aflição.
O Estigma da Saúde Mental: Um Combate Necessário
Além da tendência histórica de separar corpo e mente no tratamento, os estigmas associados à saúde mental continuam a persistir. Muitos enxergam questões de saúde mental como sinais de ‘frescura’ ou ‘fraqueza’, o que impede a busca por ajuda por parte de muitos pacientes.
Frequentemente, a sociedade desvaloriza ou ignora os problemas emocionais, por eles não serem tão visíveis quanto as doenças físicas. Esta desvalorização não só dificulta o acesso ao apoio necessário como também pode piorar as condições já existentes.
A percepção de que questões de saúde mental são meramente “frescura” ou indicativos de “fraqueza” contribui para uma cultura de silêncio e negação, na qual indivíduos podem hesitar em procurar tratamento por medo de julgamento ou incompreensão.
É crucial promover uma maior conscientização e educação sobre saúde mental para combater o estigma e encorajar uma abordagem mais empática e compreensiva.
Reconhecer a legitimidade e a gravidade dos problemas emocionais e psicológicos é um passo essencial para criar um ambiente em que todos se sintam seguros e apoiados para buscar ajuda.
As dificuldades de adesão ao tratamento adequado
A compreensão do modelo de saúde e tratamento está evoluindo. Tradicionalmente, a medicina se apoia em evidências objetivas e diagnósticos concretos, valorizando resultados de exames e manifestações físicas das doenças. Contudo, essa abordagem muitas vezes negligencia os fatores subjetivos.
Durante consultas médicas, por exemplo, o médico pode diagnosticar uma condição como gastrite ou uma alergia e sugerir que tem uma origem emocional, psicossomática ou psicológica. No entanto, frequentemente os pacientes minimizam essas interpretações e resistem à inclusão da psicoterapia em seus planos de tratamento. Isso destaca uma desconexão entre a percepção do paciente sobre a saúde e a abordagem holística necessária para o tratamento eficaz.
Desvalorização do Diagnóstico Emocional
Quando são informados de que seus sintomas têm origens emocionais, muitos pacientes não compreendem a complexa interação entre mente e corpo. Subestimam o impacto significativo do estresse crônico e outros fatores psicológicos em sua saúde física. Assim, eles podem rejeitar diagnósticos que consideram ‘apenas emocionais’ e hesitar em buscar tratamento especializado.
Portanto, é fundamental que médicos, mesmo não sendo especialista em saúde mental, tenha algum conhecimento nesta área. São informações importantes para que o paciente não seja submetido a exames desconfortáveis e desnecessários.
Isto também evitaria o uso de medicamentos que, muitas vezes, são indicados como “SOS” que, por seu efeito calmante, amenizam os sintomas do mal-estar, mas não apresentam qualquer efetividade a longo prazo.
Uma comunicação clara sobre a natureza emocional de certos sintomas, acompanhada de recomendações para psicoterapia, pode reduzir a frustração do paciente e encorajar uma abordagem mais integrada à saúde.
Vencendo o Estigma: Integração e Transparência no Cuidado com a Saúde Mental
Quando o paciente é informado de que seus problemas são emocionais sem receberem uma explicação detalhada ou recomendações para tratamento psicológico, geralmente sentem frustração, insegurança e angústia. Esta falta de clareza e orientação sobre tratamentos complementares contribui para perpetuar o estresse e a ansiedade.
Além disso, essa abordagem pode reforçar a percepção equivocada que psiquiatras ou psicólogos são profissionais especializados em atender pessoas que “tem problemas da cabeça”, intensificando a angústia do paciente.
É importante ressaltar que esta afirmação toca no ponto crítico de que o estigma associado à saúde mental pode ser reforçado quando os tratamentos psicológicos são mal compreendidos ou apresentados de maneira inadequada, aumentando a resistência dos pacientes a buscar ajuda especializada.
Desafios na Implementação de Cuidados Integrados
Mesmo que exista um reconhecimento crescente da importância de uma abordagem integrada à saúde, que considera tanto o bem-estar físico quanto o mental, a implementação prática dessa abordagem ainda enfrenta desafios significativos.
Isso inclui barreiras na formação médica, nas estruturas dos sistemas de saúde, na cobertura de seguros, e na disponibilidade e acesso a serviços de saúde mental.
Portanto, apesar dos avanços, a integração completa e eficaz dos cuidados com a saúde mental e física ainda requer esforços substanciais em várias frentes, desde a educação médica até a política de saúde pública.
Ainda que exista uma maior conscientização sobre a importância dos cuidados integrados, ainda há um longo caminho a percorrer para que a prática médica reflita plenamente a interconexão entre mente e corpo.
Promover uma compreensão mais integrada da saúde, que englobe tanto aspectos físicos quanto mentais, é essencial para superar essas barreiras e melhorar os cuidados de saúde de forma mais holística.
A Importância da Compreensão Psicossomática na Medicina
Tudo que está relacionado com a saúde funciona na totalidade. Mente e corpo não estão dissociados e nada no organismo funciona separadamente.
Valorizar as questões emocionais do paciente é fundamental para o encaminhamento correto e tratamento adequado.
O paciente, em geral, valoriza as orientações do médico e confia em seu conhecimento sobre as melhorias para seu bem-estar. Portanto, uma orientação efetiva sobre a importância de fazer o tratamento indicado para as questões emocionais é essencial. Desta forma, o paciente buscará a terapia adequada, que realmente tratará a raiz das questões e não apenas combater os sintomas.
Cada aparelho do nosso organismo, seja ele, respiratório, digestivo, reprodutor ou psicológico, estão interligados e diante de qualquer alteração, refletem um no outro. Cada um com sua especificidade.
A adoção de uma visão mais inclusiva sobre saúde implica em reconhecer a multiplicidade de fatores que influenciam o quadro clínico de uma pessoa, indo além dos sintomas físicos e abordando as questões emocionais e psicológicas que podem estar na raiz de muitas condições.
Mary Scabora
Psicóloga Clínica
Cuidar da saúde mental também é cuidar da saúde.
Cuide de si!